20:30
"Lili, como foi que você aceitou Jesus?"
"Lili, porque você virou evangélica?"
"Lili, o que aconteceu que você agora só fala de Deus?"
Essas três perguntas resumem um pouco do que muita gente me perguntou quando eu me converti.
Uma história tão normal, que desmonta qualquer curioso. Mas ainda assim, é a minha
história.
Nasci num lar cristão, família toda evangélica, com exceção dos parentes cariocas por parte de mãe, basicamente de 2o e 3o grau. Esses são católicos, acho que pela influência da descendência italiana que a nossa família tem. Lembro da minha infância frequentando a Igreja Batista Tradicional de Betim com a minha mãe e avó, assídua na escolinha dominical. O terror das professoras, que na maioria das vezes se embolavam com as minhas perguntas. Eu questionava tudo. E me interessava também, apesar de achar os cultos extremamente chatos. Eu quase morria de tédio! Lembro que na minha adolescência frequentamos várias igrejas aqui em Betim, e de algumas a memória é bem vaga... Minha irmã sempre foi mais séria e mais introspectiva do que eu. Mais racional também. Eu era a extrovertida, impulsiva e emotiva. Tinha uma igreja que eu especificamente detestei durante anos, que me marcou muito e me trouxe algumas feridas. Naquela época eu associava Deus à igreja e ao homem, por isso me decepcionava muito com a vida Cristã. Erro infeliz. Deus é Deus,
nossa obrigação é sempre olhar pra Jesus e saber separar os desvios do homem e da igreja, do que Deus é e representa. Quando me desviei dos caminhos do Senhor, tinha 17 anos, e frequentava essa mesma igreja que um dia me decepcionou.
Bom, uma parte da minha história que acrescentou muito em quem eu sou hoje, é a minha vida escolar. Estudei do 3o período até o 3o ano no mesmo colégio: o Colégio Batista Mineiro em Betim. Uma escola particular, que durante todo esse tempo era uma das melhores ( a melhor, na minha opinião) da minha cidade. O ensino era até questionável, não era como o de Belo Horizonte que forçava o aluno a se matar de estudar... mas era um ensino bom, tinha estrutura, os professores eram adoráveis. E por ser um colégio Batista, além das aulas de Cultura Religiosa, tínhamos também a chamada Assembléia. Essa matéria na verdade era um culto, uma vez por semana, durante um horário, para louvar a Deus e estudar a palavra dele. Era dirigida por dois pastores, e eu sempre adorava.
Amava a escola e os meus amigos. Era feliz, de verdade. Porém, como toda criança e como toda adolescente, tinha minhas inseguranças e insatisfações psicológicas. Crentes eram tão discriminados (e quando as pessoas falam que bullying é besteira eu insisto em discordar. As maldades que a criança sofre na escola refletem na auto estima delas, é difícil tratar o psicológico de alguém que tem trauma de infância e nem sabe) que eu tinha vergonha de falar que era uma. A maioria das crianças zombava muito de crente, e essa maioria era católica. Falavam em rezar, em padre, e em santos, coisa que eu realmente não entendia. Nunca tinha colocado o pé numa igreja Católica. Meus pais me controlavam infinitamente mais do que os pais dos meus amigos católicos, e as vezes eu me sentia uma quadrada. Excluída. Queria ter a liberdade que eles tinham, e não sentir vergonha de dizer a verdade sobre a minha vida. Mas nada disso me impedia de ser extrovertida, me comunicar, ter amigas e me divertir...
Aos 17 anos, no terceiro ano, passei por situações familiares e financeiras que me desestruturaram completamente. Não havia nenhuma intimidade entre eu e Deus. Eu frequentava a igreja por mera religiosidade e tradição. Logo,
em vez de me apegar à Deus, me afastei dele e da casa dele. E a partir disso, conheci o mundo de outra forma. Aos meus 18 anos tive meu primeiro namorado, mas foi aos meus 19 (ou 20, não lembro bem) que realmente aprendi o que era amor... Amava aquele menino de doer a barriga, de chorar de saudade. Dos meus 17 aos meus 23, tive 4 namorados, conheci vários meninos, gostei de alguns, amei de verdade um só, muitas "amigas" entraram e saíram da minha vida, viajei bastante, conheci várias boates e fui em várias festas. Ainda assim, nunca experimentei nenhum tipo de droga e nunca bebi. Não sei qual é a sensação de perder a consciência e ficar bêbada, de verdade. O que eu sei mesmo, é que
esse período serviu para me mostrar as coisas que o mundo tem a oferecer. Coisas que erroneamente você pensa que são mais divertidas e saudáveis do que a caminhada cristã, cheia de leis e obrigações. Eu não suportava ouvir falar em Deus ou Jesus Cristo e principalmente, em igreja. Quando lembrava como a minha vida era "chata", tinha vontade de sair correndo. O que eu precisava era de um avivamento, e aprender que só Deus poderia preencher o vazio da minha alma, e que ele não tinha nada a ver com a vida infeliz que vivi naquele lugar.
A birra era tanta com a igreja e com os crentes, que anos depois, quem se tornou a pessoa a zombar e criticá-los, foi eu. Acreditem ou não, é muito difícil dizer isso agora. Vergonhoso. Me
arrependo amargamente por tamanha ignorância e maldade. Dizia para a minha mãe que ela era fanática religiosa, a pessoa que mais orava por mim! Peguei no pé da minha irmã inúmeras vezes porque ela se reconciliou com Jesus, voltou a frequentar a igreja, começou a namorar um menino também desviado (que hoje é o marido dela) e parou de sair comigo... não conseguia acreditar que ela tinha voltado para o mesmo meio - só que em outro lugar - que uma vez decepcionou à nós duas.
E assim, eu me via cada vez mais "presa" no mundo devido aos pecados que cometia ( é isso que o pecado faz: te aprisiona nas consequências dele ), e à ilusão que vivia. Procurava sair cada vez mais e encontrar diversão na rua, com movimento, pessoas, festas, bagunças e músicas constantemente. O que eu queria era preencher o tempo e a cabeça, esse conjunto formava um vazio grande no meu espírito. Você está lendo isso de uma pessoa que não suportava ficar em casa num sábado a noite sozinha, e que hoje não apenas fica, como gosta e aprecia isso.
A sensação que aquela "diversão" me trazia era tão passageira, que eu precisava repetir a mesma coisa no dia seguinte. O efeito passava rápido. Eu sempre ligava pra alguém procurando coisa pra fazer, se não tivesse eu inventava. Não me importava com o dinheiro que gastava, nem o tempo que consumia, nem a satisfação dos meus pais ou da minha irmã. Minhas amigas eram parceiríssimas! E eu sempre fui líder, sempre me destaquei.
Ao entrar na faculdade (aos 18) a situação se agravou bem: não por conta de baladas, mas por conta de uma coisa chama evolucionismo. Fui aprendendo que se eu quisesse ter uma boa visão científica e pensar como uma cientista das ciências sociais, eu precisaria matar o conceito de divindade. Ou aceitar o fato de que a divindade era criada pelo homem, e não poderia pautar minha lógica por culpa ( ideia supostamente imposta pela igreja), mas pela causa (ideia imposta pela ciência). Dessa forma, o arrependimento e o pecado, seriam piada, meras palavras sem teor relevante. Era um mundo novo para mim, e o saber me encantava. Eu me rendia ao intelecto, ao poder que a boa retórica fornece.
O tempo passou, e quanto mais descolada, informada e inteligente eu ficava, mais
vazia também. Mais longe da minha família me sentia, e mais questionamentos acerca da vida eu tinha. A felicidade passava rápido, eu me decepcionava demais com as pessoas, e estava constantemente fragilizada. Isso durou por um tempo, até a data do assalto. O assalto aconteceu durante uma tarde, ao sair do banco com 1.300 reais. Saquei o dinheiro e fui pagar contas do meu pai. Um casal me roubou no centro de Betim, levaram minha bolsa e eu comecei a gritar e chorar no meio da rua. Não tem necessidade de discorrer muito sobre isso, mas em resumo foi uma experiência que me aproximou muito de Deus. Fiquei tão triste, que meu coração foi quebrantado, e depois de muito tempo, quebrei meu preconceito: aceitei um convite para ir numa célula.
A célula era quinta feira a noite, convidei uma amiga para ir comigo, e fomos. Quando começou o louvor, desabei a chorar. Não conseguia ler a folha de música, não consegui conter minhas lágrimas. Só chorava. Até o final da noite, chorei abundantemente. No dia seguinte me convidaram para ir num culto de jovens, era um sábado a noite. Eu deixei de ir para uma boate que na época eu adorava (chamada Cinco) e fui pra igreja. E no domingo fui de novo. E fiz uma oração... reconciliando com Jesus, o convidando pra entrar na minha vida de novo. Hoje, um ano após essa escolha, eu afirmo:
foi a melhor decisão que eu tomei na vida. Não foi fácil, e de lá pra cá tropecei algumas vezes, me machuquei, chorei, reclamei, desviei, mas estou aqui, perseverando, e cada vez mais firmada. Não porque o tempo passou e o tempo me fez mais experiente, mas porque eu passei a buscar por Deus com mais vontade, e o Espírito Santo foi convidado por mim a fazer a obra no meu coração. Ele me transforma a cada dia. Me diminui pra Deus crescer, me corrige quando erro, e me consola quando choro. Tudo na minha vida mudou. E Deus tem me honrado de forma tão grande, que eu não tenho como descrever quão maravilhoso ele é. Eu acredito nele. Eu sei que ele está aqui. Ele me escolheu, por alguma razão que desconheço, e apostou em mim suas fichas... sou humana, fraca, suja, pecadora, errada, e nem mesmo por isso ele abriu mão de mim. Em todo o tempo que eu estive longe dele, ele cuidou de mim para que não faltasse nada.
Eu abri mão da minha privacidade e contei a minha história, algo tão íntimo e pessoal, para a
honra e glória de Deus. Ele merece os créditos por tudo isso. A minha gratidão. E por mais simples ou bobo que tudo isso seja, talvez edifique alguém que precise tomar a mesma decisão que eu tomei, mas não tem coragem ou força de vontade... Força. Vai firme. Você não vai se arrepender.