domingo, 6 de julho de 2014

O ônus da inspiração: aquele que influencia é sempre aquele que paga.

De uns meses pra cá comecei a acreditar que Deus tem um propósito na minha expressão. Sei que tenho dois ouvidos e uma boca para ouvir mais e falar menos, entretanto, no meu caso, existe uma pequena ressalva aí. Talvez o Senhor esteja gerando coisas no meu íntimo que precisam ser externadas. Coisas que talvez possam incentivar, estimular, e por fim - ainda contra a minha vontade - inspirar as pessoas.

"Contra a sua vontade, Lidiane?" Sim, caro leitor. E por favor, não me julgue por isso. Eu sei o ônus que o líder tem. Eu sei o peso que uma figura pública carrega. Eu sou bem resolvida quanto à minha identidade e valorizo tudo o que há de mais autêntico... Por isso aquele último verbo citado no parágrafo anterior se tornou quase uma birra minha. Luto contra os meus pensamentos quando as pessoas usam a palavra 'inspiração'. Sobretudo quando essas pessoas são cristãs.
Como? Eu explico através de duas possibilidades: 1) você querer inspirar; 2) você querer inspiração.

1) Ando cansada de ver tanta gente buscando desesperadamente por publicidade, por fama e por popularidade. Querendo - a qualquer custo - se auto afirmar. Pessoas que não dão o exemplo simples de Cristo nas pequenas coisas ( como um simples bom dia, ou como a gentileza com o próximo, ou como o amor pelo pobre e necessitado... ) mas que tem bom discurso e boa aparência (acham que por isso estão em posição de destaque social).
 É uma brincadeira perigosa. Sobretudo quando engloba o nome de Cristo como desculpa. Lembremos-nos que no fim dos tempos nossas obras serão julgadas por Deus. Se a motivação delas é carnal, como as cobiças pessoais, não haverá galardão, ou seja. elas não serão reconhecidas. Fazer as coisas aqui na terra para Cristo, é fazer para o benefício dele, não o próprio.
Eu ando cansada sim. Cansada de ver artistas no meio gospel - e não falo apenas dos famosos não - que SABEM que são formadores de opinião, sem qualquer temor à Deus. Pregando o que não vivem e vivendo como se não pregassem. Não vou lançar perguntas retóricas do tipo " ah Senhor, porque isso acontece hoje em dia?" já sabendo a resposta. Não é uma resposta absoluta e não é uma constatação científica. Mas através do discernimento, é o que eu consigo ver. Inclusive, as vezes eu tento me enganar, fingindo que não sei. Acredito que existe duas teorias pra tudo isso: a sociedade do espetáculo e o apocalipse. A primeira está dentro da segunda. E quem não sabe o que é, já tem dever de casa pra hoje.

2) De quem estamos buscando inspiração? De pessoas que são referências de Cristo para nós, de pessoas que se dizem referências de Cristo para nós mas que não nos passam essa credibilidade ou de pessoas que não são referenciais de Cristo nem querem ser? Meu temor me leva a pisar em ovos e vigiar muito nas palavras para não resumir essas três opções em três palavras que talvez pudessem soar de forma pejorativa. As perguntas retóricas são uma ótima forma de levar à reflexão sem impor um ideal. E sem qualquer desejo de manipulação, como a cobra fez com Eva ( por exemplo ), minha intenção é fazer com que as pessoas PENSEM sobre tudo isso.
Parece que o senso comum vai tomando conta. O senso crítico serve para julgar o pecado do irmão, mas não serve para olhar pra dentro e analisar o NOSSO comportamento. E sutilmente nosso cérebro vai perdendo a capacidade de raciocínio. Até de questionamento. Aí, começamos a pautar nosso caráter, nossas finanças e nosso lifestyle em blogueiras de moda ( que nos dizem como devemos nos vestir e nos comportar, ainda que não tenhamos condições financeiras e fisiológicas para tanto) , em artistas globais, em políticos, em pastores, até no cachorro da vizinha, menos em Jesus!
O apóstolo Paulo disse: "sede meu imitador como eu sou de Cristo", porque de fato, ele imitava Cristo. Não tem problema se espelhar em alguém, possuir um referencial, se inspirar, não tem mesmo. Eu tenho líderes e algumas poucas amigas que são referencias de vida pra mim. Eu admiro essas pessoas, e tento reproduzir algumas coisas que aprendo através delas. O problema está na escolha. O que nós absorvemos é o que o referencial tem a oferecer. Se ele não tem um caráter de Cristo, ele tem o caráter de quem?

Talvez eu ainda não tenha provado o meu ponto sobre o temor em ser inspiração e ser um referencial. Mas para isso, eu conto com o Espírito de revelação para agir sob aqueles que possuírem comunhão com ele. Ele revela, ele testifica. Que as minhas palavras gerem vida, e entendimento.
Mas continuando... o ônus de quem influencia vai desde a perda da privacidade - sua vida passa a ser assunto alheio, e você passa a ter que dar satisfações - até a perda da autenticidade - e acostume-se a ser copiado, invejado, criticado e afins.
Tirando tudo isso, existe um preço CARO de renúncia que precisamos pagar diariamente. Renúncia de desejos carnais, de sonhos, de vontades. Um homem muito sábio ( meu sogro ) me disse uma vez que a vontade precisa ser dominada. Quem trabalha REALMENTE para Deus e sabe do seu chamado, faz o que tem que fazer independente de sua vontade. Tem dias que, aquele homem pregando lá no púlpito da sua igreja, não quer estar lá. Tem dias que ele só quer ficar em casa com sua família. Ou chorando no quarto com Deus. Mas em responsabilidade ao seu DEVER, ele renuncia à sua vontade. Ele faz a vontade de Deus, como Jesus no Getsemani nos ensinou.

Os que foram CHAMADOS para inspirar e influenciar seus irmãos tem um DEVER celestial através disso. Não é um hobbie. Não é uma vontade que parte deles. Meu namorado ( também muito sábio ) me trouxe uma preciosidade semelhante: quando você escolhe para onde vai cumprir seu chamado, você NÃO foi enviado por Deus. É Deus que te envia. Da mesma forma, eu acredito sim, que não fomos nós que escolhemos amá-lo, mas ele nos amou primeiro e ELE nos escolheu. Logo, nossos chamados aqui na terra também são escolhidos por ele. Se ELE quer que alguém influencie alguém aqui na terra, essa pessoa vai influenciar até sem querer ( como as vezes acontece comigo).